Acervo Histórico da Discoteca Oneyda Alvarenga

Foto: Artur Cunha/CCSP

Um dos acervos mais importantes para a cultura brasileira e considerado Patrimônio Histórico da Humanidade pelo Programa Memória do Mundo da UNESCO (2009), passou recentemente por processos de conservação e tratamento, por meio do apoio financeiro do Programa Iberarchivos e AECID – Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento.

Fundo Histórico da Discoteca Oneyda Alvarenga – Centro Cultural São Paulo, contém coleções de cunho etnográfico e histórico, composto por grande volume de documentação em papel (1935 e 1982) e os cilindros de cera que compõe parte do arquivo fonográfico do acervo, entre os quais se encontram provavelmente os raríssimos registros musicais dos indígenas Macuxi, feitos pelo antropólogo alemão Koch Grumberg.

A Discoteca Oneyda Alvarenga, antiga Discoteca Pública Municipal de São Paulo foi fundada em 1935 pelo então Diretor do Departamento de Cultura, Mário de Andrade, sendo dirigida por Oneyda Alvarenga desde sua fundação até o final da década de 60 do século XX.

Confira as fotos de todo o processo:

Descrição e acondicionamento da documentação em papel

Cerca de 11 mil documentos em papel foi descrita (seguindo os preceitos de descrição multinível preconizados pela ISAD-G e NOBRADE), separada por tipos documentais, numerados sequencialmente e, por fim, acondicionados pelo Laboratório de Conservação e Restauro do CCSP.

Em 2022, toda essa documentação descrita estará disponível para consulta na base de dados do CCSP (https://acervoccsp.art.br/).

Conservação preventiva dos cilindros de cera

O acervo reúne ainda uma coleção de cilindros de cera que foram enviados à Discoteca pelo Museu Berlim, na ocasião coordenado por Marius Schneider, em virtude da intermediação feita por  Roquette Pinto, então diretor do Museu Nacional. Tratam-se, pois, de registros raríssimos feitos pelo antropólogo alemão Theodor Koch Grunberg, o qual publicou a obra Do Roraima ao Urinoco: observações de uma viagem pelo norte do Brasil e pela Venezuela durante os anos de 1911 a 1913, obra esta que serviu de base para redação de Macunaíma (1938) de autoria de Mário de Andrade.

Estes cilindros passaram por um processo de tratamento em parceria com a Universidade de São Paulo – USP. Foi realizada uma análise sobre a ação biológica com os técnicos do Instituto de Ciências Biológicas/USP e segue  em etapa avançada de análise pelo Laboratório de Arqueometria e Ciências Aplicadas ao Patrimônio Cultural (LACAPC) do Instituto de Física da Universidade de São Paulo.

Além disso, foi realizada a análise da composição físico-química do conjunto de cilindros. Em linhas gerais, foram utilizadas duas técnicas não destrutivas, teste infravermelho e teste de fluorescência de Raios-X, capazes de identificar estruturas orgânicas e inorgânicas, respectivamente. Tal estudo que se debruçou sobre 23 cilindros está aguardando o laudo definitivo.

Tendo em vista a conservação preventiva dos conjunto de cilindros, a equipe técnica do Laboratório de Conservação e Restauro do CCSP optou pela  confecção das caixas em Passepartout.

Ao total são 49 cilindros inteiros e 42 cilindros quebrados, sendo estes acondicionados em suportes customizados para cada tamanho.

Sobre a Discoteca Oneyda Alvarenga do Centro Cultural São Paulo

A Discoteca empreendeu importantes trabalhos relacionados às primeiras políticas de preservação do patrimônio cultural brasileiro, colhendo e registrando músicas, danças e outras manifestações culturais de inúmeras localidades do Brasil por meio de discos, fotografias e filmes. O trabalho de maior fôlego ficou conhecido como Missão de Pesquisas Folclóricas (1938), ocasião na qual a equipe formada por Luís Saia (arquiteto e chefe da Missão), Martim Braunwieser (maestro),  Benedicto Pacheco (técnico de som) e Antônio Ladeira (auxiliar) registrou manifestações populares e religiosas das regiões dos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão e Pará. 

Assista ao Seminário Online

No dia 11/11, às 18hs, foi realizado o Seminário Online –  Fonografia e Patrimônio Cultural, com participação da historiadora Juliana Pérez Gonzáles e do físico Nilson Souza Filho. O seminário tem como temas a história dos registros etnográficos, os meios e metodologias para preservação e digitalização desse suporte e história e as técnicas de gravação sonora, especificamente a respeito do fonógrafo de Edison. – 

Este projeto possui o apoio financeiro dos países integrantes do Programa Iberarquivos e a Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID) no projeto "Tratamento e conservação do Fundo Discoteca Oneyda Alvarenga: acondicionamento, descrição e restauro da documentação textual e fonográfica (cilindros de cera)"